Genética
Pesquisadores usam técnica de clonagem para criar
células-tronco embrionárias humanas
Estudo consegue, pela primeira vez,
criar células-tronco embrionárias a partir de células de um ser humano.
Descoberta reacende debates éticos e traz a esperança de novos tratamentos
contra uma série de doenças
Guilherme Rosa e Mariana
Janjacomo
Óvulo recebe material genético de célula da pele:
método revolucionário (Universidade de Saúde e
Ciência do Oregon)
Cientistas da Universidade de Saúde e Ciência de Oregon, nos Estados Unidos,
conseguiram pela primeira vez reprogramar células humanas adultas para que se
tornassem células-tronco embrionárias. Para isso, eles utilizaram uma técnica de
clonagem, retirando células da pele de um indivíduo e inserindo seu DNA dentro
do núcleo de óvulos humanos. O desenvolvimento desse óvulo levou à geração das
células-tronco — capazes de se transformar em qualquer tipo de célula do corpo
humano e, por isso, esperança para uma série de tratamentos médicos. Segundo os
cientistas, elas poderiam substituir células danificadas por ferimentos ou
doenças e oferecem esperanças no tratamento contra o Parkinson, esclerose
múltipla, doenças cardíacas e lesões na espinha. “Como essas células
reprogramadas podem ser geradas com o material genético da célula de um
paciente, não há preocupações quanto à rejeição em um transplante”, diz
Shoukhrat Mitalipov, pesquisador da Universidade de Saúde e Ciência de Oregon e
autor do estudo, publicado nesta quarta-feira na revista Cell.
CONHEÇA A PESQUISA
Título original:
Human Embryonic Stem Cells Derived by Somatic Cell Nuclear
Transfer
Onde foi divulgada: periódico Cell
Quem fez: Masahito Tachibana, Paula Amato, Michelle Sparman,
Nuria Marti Gutierrez, Rebecca Tippner-Hedges, Hong Ma, Eunju Kang, Alimujiang
Fulati, Hyo-Sang Lee
Instituição: Universidade de Saúde e Ciência
de Oregon, nos Estados Unidos
Resultado: Os pesquisadores
desenvolveram uma técnica capaz de, pela primeira vez, criar células-tronco
embrionárias humanas. Para isso, eles inseriram o material genético de uma
célula adulta da pele em um óvulo não-fertilizado, cujo material genético foi
retirado.
A técnica utilizada pelos pesquisadores se chama transferência nuclear de
células somáticas, e é uma variação da técnica de clonagem utilizada
para
criar a ovelha Dolly, em 1996. Ao transferir o DNA de uma célula
adulta para um óvulo não fertilizado, os pesquisadores dão origem a um processo
de divisão celular que pode levar ao surgimento de um embrião com o mesmo genoma
da célula doadora. Na pesquisa atual — diferentemente do que aconteceu com a
Dolly, por exemplo —, os pesquisadores pararam esse processo em um estágio muito
inicial, conhecido como blastocisto, quando estavam sendo produzidas as
primeiras células-tronco.
Cultivadas em laboratório, elas se mostraram tão versáteis quanto células
criadas em embriões gerados a partir da fecundação natural. "Um exame completo
das células-tronco criadas por essa técnica demonstrou sua habilidade de se
converter, do mesmo modo que as células-tronco embrionárias normais, em vários
tipos diferentes de células, incluindo as nervosas, do fígado e do coração",
disse Mitalipov.
Falhas anteriores — Tentativas anteriores de produzir o
mesmo tipo de célula-tronco em laboratório não foram bem sucedidas: os óvulos
humanos se mostraram mais frágeis do que o de outros animais e costumavam frear
seu desenvolvimento antes mesmo de atingir o estágio de blastocisto. O sucesso
da equipe veio sete anos depois de eles terem conseguido fazer o mesmo com
macacos — o que permitiu que realizassem uma série de mudanças nas técnicas
utilizadas anteriormente.
A chave para o sucesso foi a descoberta de um modo de fazer com que os óvulos
permanecessem em um estado chamado metáfase, uma fase de seu processo natural de
divisão celular no qual o material genético se alinha no meio da célula pouco
antes de ela se dividir. Os pesquisadores descobriram que, ao utilizar um
processo químico para manter o óvulo nessa fase durante a transferência do
núcleo, eles eram capazes de fazer com que o desenvolvimento do óvulo fosse
normal, produzindo as células-tronco. "Por enquanto, ainda existe muito trabalho
a ser feito para desenvolver tratamentos efetivos e seguros com essas células.
Mas nós acreditamos que esse é um passo significativo em direção ao
desenvolvimento de células que possam ser usadas na medicina regenerativa",
disse o pesquisador.
Clones – A pesquisa deve trazer de volta o debate ético
sobre a clonagem. Críticos já dizem que o estudo pode levar ao desenvolvimento
de clones humanos e à morte injustificada de embriões. Para evitar as críticas,
os pesquisadores destacam que o seu método é conhecido como clonagem
terapêutica, e é diferente da clonagem reprodutiva — usada para criar a Dolly.
Eles dizem que diversas pesquisas realizadas com macacos mostraram que a técnica
da transferência nuclear de células somáticas não é capaz de criar clones desse
tipo de animal, o que também deve ser o caso dos humanos.
Saiba mais
CÉLULAS-TRONCO
Também chamadas de células-mãe, as
células-tronco podem se transformar em qualquer um dos tipos de células do corpo
humano e dar origens a outros tecidos, como ossos, nervos, músculos e sangue.
Dada essa versatilidade, elas vêm sendo testadas na regeneração de tecidos e
órgãos de pessoas doentes.
CÉLULA-TRONCO
EMBRIONÁRIA
Formada no blastocisto, aglomerado de células
que forma o feto. Por ter o ‘objetivo’ de ajudar na criação e desenvolvimento de
um novo organismo, pode se diferenciar em praticamente todos os tecidos do
corpo
CÉLULA-TRONCO PLURIPOTENTE INDUZIDA
Célula adulta
especializada que foi reprogramada geneticamente para o estágio de célula-tronco
embrionária. Pode se transformar em qualquer tecido do corpo. Elas são obtidas
por meio da reprogramação genética de células adultas. Uma célula somática (não
envolvida diretamente na reprodução), como a da pele, pode "voltar" a um estágio
similar ao de célula-tronco embrionária pela adição de alguns genes.
Eles também destacam que sua pesquisa não utiliza embriões fertilizados
naturalmente, mas criados em laboratório. "Nossa pesquisa é voltada para a
gestação de células-tronco para o uso em futuros tratamentos no combate a
doenças. Enquanto as descobertas na área da transferência de núcleo muitas vezes
levam a discussões públicas sobre a ética da clonagem humana, esse não é o nosso
foco, e nem acreditamos que nossas descobertas possam ser usadas por outros para
levar ao desenvolvimento dessa possibilidade", disse Mitalipov.
Tipos de célula — Durante os mais de dez anos em que os
pesquisadores falharam na busca por essas células embrionárias, elas foram
relegadas a segundo plano nas pesquisas genéticas. Desde 2006, os cientistas
vinham estudando o desenvolvimento de outro tipo de célula-tronco, produzidas a
partir de alterações genéticas em células adultas normais— são as células-tronco
pluripotente induzidas.
As pesquisas com a nova tecnologia vinham se desenvolvendo em grande
velocidade em vários laboratórios pelo mundo e garantiram até um prêmio
Nobel no ano passado aos descobridores da técnica que reprogramava
as células adultas. O novo estudo deve gerar uma discussão sobre qual seria a
célula-tronco mais efetiva. “A transferência nuclear parece ser um método muito
mais complexo de ser realizado, pois são necessários óvulos — e é difícil
consegui-los. Não foi relatado no artigo, e ainda não se sabe, se as células
geradas no estudo têm alguma vantagem em relação às outras; se tiverem, talvez
passe a existir um interesse maior na transferência nuclear. Por enquanto, acho
que não existe“, diz Lygia da Veiga Pereira, geneticista do Laboratório Nacional
de Células-Tronco Embrionárias da USP. É certo que os próximos anos devem trazer
uma série de pesquisa comparando as duas técnicas em seres humanos.
FONTE:
REVISTA VEJA
Genética
Pesquisadores usam técnica de clonagem para criar células-tronco embrionárias humanas
Estudo consegue, pela primeira vez, criar células-tronco embrionárias a partir de células de um ser humano. Descoberta reacende debates éticos e traz a esperança de novos tratamentos contra uma série de doenças
Guilherme Rosa e Mariana
Janjacomo
Óvulo recebe material genético de célula da pele:
método revolucionário (Universidade de Saúde e
Ciência do Oregon)
Cientistas da Universidade de Saúde e Ciência de Oregon, nos Estados Unidos,
conseguiram pela primeira vez reprogramar células humanas adultas para que se
tornassem células-tronco embrionárias. Para isso, eles utilizaram uma técnica de
clonagem, retirando células da pele de um indivíduo e inserindo seu DNA dentro
do núcleo de óvulos humanos. O desenvolvimento desse óvulo levou à geração das
células-tronco — capazes de se transformar em qualquer tipo de célula do corpo
humano e, por isso, esperança para uma série de tratamentos médicos. Segundo os
cientistas, elas poderiam substituir células danificadas por ferimentos ou
doenças e oferecem esperanças no tratamento contra o Parkinson, esclerose
múltipla, doenças cardíacas e lesões na espinha. “Como essas células
reprogramadas podem ser geradas com o material genético da célula de um
paciente, não há preocupações quanto à rejeição em um transplante”, diz
Shoukhrat Mitalipov, pesquisador da Universidade de Saúde e Ciência de Oregon e
autor do estudo, publicado nesta quarta-feira na revista Cell.
CONHEÇA A PESQUISA
Título original: Human Embryonic Stem Cells Derived by Somatic Cell Nuclear Transfer
Onde foi divulgada: periódico Cell
Quem fez: Masahito Tachibana, Paula Amato, Michelle Sparman, Nuria Marti Gutierrez, Rebecca Tippner-Hedges, Hong Ma, Eunju Kang, Alimujiang Fulati, Hyo-Sang Lee
Instituição: Universidade de Saúde e Ciência de Oregon, nos Estados UnidosResultado: Os pesquisadores desenvolveram uma técnica capaz de, pela primeira vez, criar células-tronco embrionárias humanas. Para isso, eles inseriram o material genético de uma célula adulta da pele em um óvulo não-fertilizado, cujo material genético foi retirado.
A técnica utilizada pelos pesquisadores se chama transferência nuclear de
células somáticas, e é uma variação da técnica de clonagem utilizada
para
criar a ovelha Dolly, em 1996. Ao transferir o DNA de uma célula
adulta para um óvulo não fertilizado, os pesquisadores dão origem a um processo
de divisão celular que pode levar ao surgimento de um embrião com o mesmo genoma
da célula doadora. Na pesquisa atual — diferentemente do que aconteceu com a
Dolly, por exemplo —, os pesquisadores pararam esse processo em um estágio muito
inicial, conhecido como blastocisto, quando estavam sendo produzidas as
primeiras células-tronco.
Cultivadas em laboratório, elas se mostraram tão versáteis quanto células
criadas em embriões gerados a partir da fecundação natural. "Um exame completo
das células-tronco criadas por essa técnica demonstrou sua habilidade de se
converter, do mesmo modo que as células-tronco embrionárias normais, em vários
tipos diferentes de células, incluindo as nervosas, do fígado e do coração",
disse Mitalipov.
Falhas anteriores — Tentativas anteriores de produzir o
mesmo tipo de célula-tronco em laboratório não foram bem sucedidas: os óvulos
humanos se mostraram mais frágeis do que o de outros animais e costumavam frear
seu desenvolvimento antes mesmo de atingir o estágio de blastocisto. O sucesso
da equipe veio sete anos depois de eles terem conseguido fazer o mesmo com
macacos — o que permitiu que realizassem uma série de mudanças nas técnicas
utilizadas anteriormente.
A chave para o sucesso foi a descoberta de um modo de fazer com que os óvulos
permanecessem em um estado chamado metáfase, uma fase de seu processo natural de
divisão celular no qual o material genético se alinha no meio da célula pouco
antes de ela se dividir. Os pesquisadores descobriram que, ao utilizar um
processo químico para manter o óvulo nessa fase durante a transferência do
núcleo, eles eram capazes de fazer com que o desenvolvimento do óvulo fosse
normal, produzindo as células-tronco. "Por enquanto, ainda existe muito trabalho
a ser feito para desenvolver tratamentos efetivos e seguros com essas células.
Mas nós acreditamos que esse é um passo significativo em direção ao
desenvolvimento de células que possam ser usadas na medicina regenerativa",
disse o pesquisador.
Clones – A pesquisa deve trazer de volta o debate ético
sobre a clonagem. Críticos já dizem que o estudo pode levar ao desenvolvimento
de clones humanos e à morte injustificada de embriões. Para evitar as críticas,
os pesquisadores destacam que o seu método é conhecido como clonagem
terapêutica, e é diferente da clonagem reprodutiva — usada para criar a Dolly.
Eles dizem que diversas pesquisas realizadas com macacos mostraram que a técnica
da transferência nuclear de células somáticas não é capaz de criar clones desse
tipo de animal, o que também deve ser o caso dos humanos.
Saiba mais
CÉLULAS-TRONCO
Também chamadas de células-mãe, as
células-tronco podem se transformar em qualquer um dos tipos de células do corpo
humano e dar origens a outros tecidos, como ossos, nervos, músculos e sangue.
Dada essa versatilidade, elas vêm sendo testadas na regeneração de tecidos e
órgãos de pessoas doentes.
CÉLULA-TRONCO
EMBRIONÁRIA
Formada no blastocisto, aglomerado de células
que forma o feto. Por ter o ‘objetivo’ de ajudar na criação e desenvolvimento de
um novo organismo, pode se diferenciar em praticamente todos os tecidos do
corpo
CÉLULA-TRONCO PLURIPOTENTE INDUZIDA
Célula adulta
especializada que foi reprogramada geneticamente para o estágio de célula-tronco
embrionária. Pode se transformar em qualquer tecido do corpo. Elas são obtidas
por meio da reprogramação genética de células adultas. Uma célula somática (não
envolvida diretamente na reprodução), como a da pele, pode "voltar" a um estágio
similar ao de célula-tronco embrionária pela adição de alguns genes.
Eles também destacam que sua pesquisa não utiliza embriões fertilizados
naturalmente, mas criados em laboratório. "Nossa pesquisa é voltada para a
gestação de células-tronco para o uso em futuros tratamentos no combate a
doenças. Enquanto as descobertas na área da transferência de núcleo muitas vezes
levam a discussões públicas sobre a ética da clonagem humana, esse não é o nosso
foco, e nem acreditamos que nossas descobertas possam ser usadas por outros para
levar ao desenvolvimento dessa possibilidade", disse Mitalipov.
Tipos de célula — Durante os mais de dez anos em que os
pesquisadores falharam na busca por essas células embrionárias, elas foram
relegadas a segundo plano nas pesquisas genéticas. Desde 2006, os cientistas
vinham estudando o desenvolvimento de outro tipo de célula-tronco, produzidas a
partir de alterações genéticas em células adultas normais— são as células-tronco
pluripotente induzidas.
As pesquisas com a nova tecnologia vinham se desenvolvendo em grande
velocidade em vários laboratórios pelo mundo e garantiram até um prêmio
Nobel no ano passado aos descobridores da técnica que reprogramava
as células adultas. O novo estudo deve gerar uma discussão sobre qual seria a
célula-tronco mais efetiva. “A transferência nuclear parece ser um método muito
mais complexo de ser realizado, pois são necessários óvulos — e é difícil
consegui-los. Não foi relatado no artigo, e ainda não se sabe, se as células
geradas no estudo têm alguma vantagem em relação às outras; se tiverem, talvez
passe a existir um interesse maior na transferência nuclear. Por enquanto, acho
que não existe“, diz Lygia da Veiga Pereira, geneticista do Laboratório Nacional
de Células-Tronco Embrionárias da USP. É certo que os próximos anos devem trazer
uma série de pesquisa comparando as duas técnicas em seres humanos.
FONTE:
REVISTA VEJA
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