quarta-feira, 11 de setembro de 2013


A ESPIONAGEM, A PETROBRAS E O CAMPO DE LIBRA

Poucas vezes fiquei tão indignado, como brasileiro e cidadão, com o noticiado no último domingo sobre o fato de que a Agência de Inteligência Americana (NSA) possivelmente teria feito incursões sobre dados da Petrobras, que foi apresentada de maneira despudorada como uma “empresa alvo”. 


A Petrobras tem sido, por décadas, um dos maiores símbolos de orgulho e superação do povo brasileiro. A Empresa desenvolveu tecnologia de ponta para atender desafios de produzir o petróleo disponível no país com tecnologia que outras empresas e países muitas vezes não conseguiram alcançar, ou não buscaram fazê-lo, por ter outras prioridades que não o desenvolvimento de nossa produção, que ganhou ritmo a partir de década de 70. 


Me lembro, como dirigente da Associação dos Engenheiros da Petrobras (AEPET), no final da década de 80 e início da década de 90, quando, em poucos, nos reuníamos para discutir a fúria sobre a tecnologia a reservas brasileiras e a própria onda de tentativa de privatização da Petrobras. 


Eu como era jovem, com pouco mais de 20 anos, ouvia atentamente a palavra de saudosos decanos da entidade, como Jayro Farias, Heitor Pereira, Sydney Reis e até de também saudosos apoiadores externos como Bautista Vidal, Euzébio Rocha, Barbosa Lima Sobrinho, de que a estratégia de domínio poderia utilizar armas de espionagem e manipulação, o que o meu íntimo na ocasião custava acreditar nesta “Teoria da Conspiração” que era conveniente para as teses que defendíamos e que eram fortalecidas na mídia por articulistas publicando artigos dominicais que nos taxavam de “dinossauros” e tínhamos como inimigo imaginário as Sete Irmãs. 


Lembro-me das reuniões todas as terças-feiras que terminavam ao final com um encontro em um restaurante árabe onde nos acolhíamos uns aos outros na proteção da Petrobras na ocasião defendida por muitos poucos, já que muitos se acovardavam, alguns inclusive que hoje pousam de defensores da empresa. 


Defendo que países na defesa da segurança e integridade de seus povos tenham ferramentas de investigação e até de espionagem, até porque o terrorismo é algo avassalador e que deve ser combatido com todo vigor e com as ferramentas disponíveis, porém me causa revolta e repulsa que, sob uma bandeira legítima de combate ao terrorismo atividades econômicas e até empresárias sejam monitoradas ainda mais com um argumento tolo de que tais monitoramentos seriam com o objetivo de antecipar impactos econômicos como se a produção da Petrobras para o Mercado Internacional fosse de um país árabe produtor ou a uma empresa atuasse como um membro ativo da OPEP. 


É óbvio que alguma reação mais objetiva do Governo brasileiro terá que acontecer além de uma solicitação de esclarecimentos formal e que a direção da Petrobras não pode se expor em criticas ao absurdo acontecido, apesar de certamente seus dirigentes estarem trincando os dentes, mesmo dizendo não existir vulnerabilidade em seu sistema já que certamente deve ser um dos mais seguros do país e do mundo, mas que possivelmente poderia estar sujeito a interferências que não sabemos de que ordem, pois com tecnologia e sistemas de espionagem de alto nível nada será inviolável. 


Observo hoje na imprensa alguns movimentos até legítimos, porém de ação radical, de alguns parlamentares querendo barrar empresas americanas de participar do leilão da ANP de Libra previsto para outubro, porém apesar de considerar essa ação extrema algo que poderia trazer reflexos negativos em todo relacionamento econômico, também considero uma posição muito passiva e prematura as afirmações de que as datas e procedimentos para o leilão de Libra não serão em qualquer hipótese alterados, até porque como a própria Presidente Dilma no tocante ao levantado (espionado) ainda não se conheceu tudo (everything) e, portanto se há certeza que não houve nada (anything), o que coloca em dúvida as razões deste acesso criminoso à empresa e ao próprio país, colocando em suspeita qualquer operação que envolva alguma disputa onde existam interesses econômicos empresariais de empresas de países que eventualmente tenham realizado tal prática abominável. 


No limite do imponderável se uma empresa originária de um país onde tais práticas abomináveis partiram for uma das vencedoras em libra o clima do “Day After” será extremamente conturbado o que não é bom para o próprio processo caso não aconteça um esclarecimento plausível até a ocasião até porque se foi algo muito grave, como o próprio governo brasileiro tem se posicionado e como a abrangência de “espionagem” ainda não foi identificada, como concluir que tais procedimentos inaceitáveis não ocorreram com objetivos voltados a este tema e outros do setor? 


É óbvio que licitações da ANP são realizadas a partir dos dados sísmicos disponíveis que são públicos, porém esta não é a única condicionante em um processo competitivo, pois certamente todas as empresas, e a própria Petrobras, desenvolveram além de tecnologias próprias para explodir estes e outros campos, mas tem sua estratégia própria para isso por exemplo como número de poços, arranjos submarinos, tipos de plataforma e que com o eventual acesso a pessoas e órgãos, facilmente detectados com o mínimo de inteligência, poderiam em estar, caso realmente existisse a quebra de sigilo desvendado para terceiros como informação para o processo competitivo de um leilão. 


Considero também de boa ordem um depoimento público de empresas com sede nestes países e que atuam no Brasil de que abominam tais práticas e tal qual aqueles formulários que até hoje me gera um certo constrangimento ter que preencher quando entro nos Estados Unidos de que não estaria entrando no país para cometer qualquer ato criminoso, que se pense em gerar pela ANP uma declaração no ato das propostas que empresas oriundas de países membros ou beneficiários deste sistema de informação declaram que adotam “práticas e éticas” e que não tiveram acesso a qualquer tipo de informação privilegiada obtida por centrais de inteligência ou obtidas de maneira heterodoxa, somente de fontes públicas. 


Os próximos passos deste imbróglio são imprevisíveis e considero que apesar de não considerar que se deva fazer qualquer tipo de retaliação acho uma forma muito tímida e acanhada obter apenas declarações diplomáticas, somente que não praticaram ato da espionagem e que não mais farão quando as evidências quanto a isso muito fortes. Aliás, não podemos esquecer que além de todo esse processo diplomático existem também interesses de acionistas minoritários tanto no país quanto no exterior, que certamente podem se sentir prejudicados se tais esclarecimentos não vierem a tona de maneira convincente.

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