Ele é uma confusão de cores, formatos, texturas que de alguma forma, juntos, fazem sentido e formam uma paisagem fascinante aos olhos estrangeiros, mas também a quem está acostumado a passar por ele todos os dias. Assim é o Ver-o-Peso. Inspirada por essa diversidade, Raíssa Chêne, fez da maior feira a céu aberto da América Latina seu objeto de estudo para o trabalho de conclusão de sua graduação do Bacharelado em Moda - “Estamparia Digital: As Cores e as Formas da Feira Livre do Mercado do Ver-o-Peso, em Belém - Pará - Brasil” -, dando origem à coleção de roupas intitulada “Quatro Vezes Veropa”.
“Eu escolhi esse campo muito por causa das muitas opções que ele (Ver-o-Peso) oferece. E a partir disso, dentro da minha área, eu queria trabalhar com estamparia digital. Meu olhar com relação a isto é que a estamparia é algo que quanto mais autoral, melhor. Ela é uma tendência, sempre muito utilizada dentro do mercado de moda, mas com diferentes técnicas e abordagens”, comenta Raíssa sobre a criação de estampas, algo com o que já trabalha em sua marca, a “Hetho”. “As minhas criações eu inicio manualmente, depois trato no digital”, explica.
Sobre o mercado em Belém para estas criações, a estilista é otimista: “Acho que Belém tem um mercado crescente, a gente tem encontrado novos criadores de estamparias. E quando comecei a pesquisa, ainda não tinha trabalho acadêmico com esse sentido de estamparia digital relacionado ao Ver-o-Peso”, diz ela.
Depois de acompanhar o cotidiano e as relações dentro da feira, Raíssa decidiu desenvolver sua coleção alinhada aos principais elementos que caracterizam o seu ambiente, identificados por quatro grupos: frutas, tucupi, artesanato e ervas. O projeto destaca ainda a iconografia presente nas barracas do Mercado do Ver-o-Peso.
Do básico ao conceitual,intenção é chegar ao mercado
A partir dos quatro grupos formados pelas frutas, tucupi, ervas e artesanato, Raíssa desenvolveu os desenhos utilizando o mesmo método com que costumava trabalhar com sua marca: primeiramente à mão e depois tratados digitalmente. Finalmente foram combinados aos croquis que formaram um mix de modelagens largas, acinturadas e atemporais, sendo classificados em três famílias de peças: Básica, Fashion e Vanguarda. Ao todo, são 11 desenhos, com produção de três looks e 7 peças.“Todas as modelagens foram pensadas de maneira a ter fácil utilização pelas mulheres, meu público-alvo. No conceitual, utilizei um mix de estampas (tucupi e marajoara), uma modelagem longa com cintura mais marcada, e com cor mais forte para dar um ar que não é só comercial”, detalha Raíssa.
Mais do que uma coleção, “Quatro Vezes Veropa” é a valorização da produção regional da moda, expandida de maneira mais atrativa e inédita ao consumidor local, nacional e estrangeiro. A estudante comemora a ótima aceitação da banca avaliadora e de quem já teve a oportunidade de ver a coleção de perto. “Eu pretendo seguir nessa área de estamparia, meu projeto a curto prazo. Uma das minhas pretensões é comercializar as peças e botar para funcionar outros projetos relacionados à nossa cultura. Acho que tem muitos elementos inspiradores no Pará, e a gente tem mesmo que explorar isso. Pretendo que o ‘Quatro Vezes Veropa’ seja só o início de outros bons projetos que eu venha a realizar”, finaliza a estudante.
(Laís Azevedo/Diário do Pará)
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