Lula passou uma longa noite de agonia após a decisão histórica do STF que negou o seuhabeas corpus. Hoje, por volta do meio-dia, o procurador da República Maurício Gotardo Gerum requereu ao TRF-4 a prisão imediata do ex-presidente da República. Às 17h31 o TRF-4 informou ao juiz federal Sérgio Moro que a pena podia ser executada e às 17h50 foi expedida a ordem de prisão. Moro, no entanto, deu a Lula a oportunidade de se apresentar voluntariamente à PF, em atenção à dignidade do cargo que ocupou, até às 17h de amanhã, vetou a utilização de algemas em qualquer hipótese e reservou uma espécie de Sala de Estado Maior, na própria Superintendência da Polícia Federal, onde Lula ficará sozinho, para o início do cumprimento da pena.
Trata-se do sexto presidente da República do Brasil a ser preso. Mas as cinco prisões anteriores foram todas por motivos políticos, e só uma em período de normalidade democrática (logo depois veio turbulência). Agora, pela primeira vez na História, um ex-presidente foi julgado culpado por crime comum.
Na República Velha, em 2 de julho de 1922, o marechal Hermes da Fonseca era presidente do Clube Militar e criticou duramente a intervenção do governo federal na eleição estadual de Pernambuco. O presidente Epitácio Pessoa ordenou sua prisão e o fechamento por seis meses do Clube Militar. O ex-presidente ficou preso até 6 de janeiro do ano seguinte, quando o advogado Evaristo de Morais impetrou junto ao STF habeas corpus, alegando prisão sem culpa formada e mandado de autoridade competente, já que os crimes, tipificados como militares, eram, na verdade, políticos. A ordem foi concedida, e Hermes, que estava doente, foi libertado. O episódio foi o estopim da insurreição de jovens oficiais contra Epitácio Pessoa e seu sucessor eleito, Arthur Bernardes, que acabou tomando posse em novembro na vigência do estado de sítio decretado após o levante do Forte de Copacabana.
Em meio a conspiração militar e pressão de grupos de populares, na manhã do dia 24 de outubro de 1930 Washington Luís foi deposto, obrigado a deixar o Palácio Guanabara e transportado para o forte de Copacabana. Seus ministros também foram presos. Era a Revolução de 1930. Ele negociou a sua libertação, partiu para o exílio na Europa e nos EUA e voltou só em 1947, após o fim da ditadura do Estado Novo (1937-45), comandada por Getúlio Vargas. Morreu pobre, em 4 de agosto de 1957, aos 87 anos.
Após a eclosão da Revolução Constitucionalista de julho de 1932, em São Paulo, o ex-presidente Arthur Bernardes foi preso em 23 setembro de 1932, em Araponga, tentando fazer um levante em Minas Gerais em apoio ao movimento paulista. Embarcado de trem para o Rio, foi levado para depoimentos na Ilha das Cobras e, depois, na Ilha do Rijo, ambas na Baía de Guanabara. Ficou preso no Forte do Leme, antes de seguir, em 4 de dezembro de 1932, para o exílio em Portugal.
Com o golpe de 1964 que depôs o presidente João Goulart, o ex-presidente Juscelino Kubitschek teve os seus direitos políticos cassados por dez anos. Com o endurecimento da ditadura militar, após o AI-5, em 13 de dezembro de 1968, JK foi preso e levado para um quartel, em Niterói. Ele e o ex-governador da Guanabara Carlos Lacerda, que articulavam com Jango a formação da Frente Ampla, pedindo a volta da democracia ao país, foram soltos no dia 22 de dezembro. Depois, Juscelino ficou um mês em prisão domiciliar e, com a dissolução da Frente Ampla, passou a se dedicar à vida empresarial.
Jânio Quadros, que também teve seus direitos cassados, foi confinado durante 120 dias em Corumbá (MS) pelo regime militar. Mas podia andar à vontade pelas ruas da cidade e até trabalhar.
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