segunda-feira, 20 de janeiro de 2020

Entre ofensas gritantes e prazeres silenciosos: a Belém da homofobia e dos banheirões!!!




Os pequenos hábitos que fazemos diariamente vão dando forma à nossa rotina. Dentre muitos, um deles é frequentar banheiros “públicos”, sejam em shoppings, restaurantes, bares, instituições de ensino ou outros ambientes. Neles, não é raro notar que muitas vezes as paredes são riscadas, também com conteúdos de pessoas que buscam sexo casual, como de outras que, infelizmente, expressam sua homofobia
Ali, então, se estabelece um tipo de comunicação. Na verdade, vários. Setas, desenhos e números levam a diversas mensagens, um caleidoscópio de diálogos sobre convites para encontros, textos de humor e também discursos de ódio, isto é, mensagens que promovem a violência, hostilidade ou perseguição contra uma pessoa ou grupo, em função de características como raça, orientação sexual ou gênero.
Na porta de um dos banheiros da Faculdade de Artes Visuais da Universidade Federal do Pará, por exemplo, lê-se: “ô lugarzinho pra ter viado”. Manifestações como essa são representações de um pensamento generalizado de repulsa à comunidade LGBTQIAP+ (Lésbicas, Gays, Bi, Trans, Queer/Questionando, Intersexo, Assexuais/Arromânticas/Agênero, Pan/Poli, e mais), que fazem o Brasil ser o país que mais mata pessoas desse grupo no mundo – e também reverbera, não raramente com a alcunha de “humor” discursos homofóbicos.

As fotos deste texto integram a série "Ô lugarzinho pra ter viado", exposta por Maurício Igor em Belém, outras cidades do Brasil e na Europa.
As fotos deste texto integram a série "Ô lugarzinho pra ter viado", exposta por Maurício Igor em Belém, outras cidades do Brasil e na Europa. Maurício Igor/ @mauricioigor

Nos últimos anos, um “mapeamento” feito por mim, Maurício Igor, observei os discursos homofóbicos manifestados em paredes e portas de banheiros da Universidade Federal do Pará, encontrados no Instituto de Ciências da Educação, Instituto de Letras e Comunicação, na Faculdade de Artes Visuais e no banheiro do ginásio da Universidade. São signos que comunicam percepções e preconceitos que estão presentes em diversos locais, inclusive nas paredes de ambientes como banheiros.

São nestes cenários, no entanto, que ocorrem diversas práticas sexuais que são criticadas – por ódio ou mesmo por algum tipo de recalque psicológico que faz pessoas que possuem dificuldades em admitir sua pulsão sexual por alguém do mesmo gênero criticar tais ações. Mais que isso: muitas vezes são publicizadas, sem o menor receio ou pudor, na web. Falamos aqui também dos banheirões, bastante comuns em Belém.
Você não sabe o que é? Considerados “tabus”, ainda mais em uma cidade que vive entre o calor que dilata e aproxima (tant)os corpos e a herança conservadora que ainda se constitui em um traço (hipócrita?) de nossa sociedade, o termo aponta para a prática de “pegação” e muitas vezes relações sexuais no interior dos banheiros.

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