Falha humana causou
atropelamento de Ana Maria Braga
Após demonstrações, computador do veículo foi
desligado e, sem o freio de mão puxado, acabou descendo a rua íngreme em que
estava estacionado
Veículo autônomo da Universidade Federal do Espírito Santo: o carro é
capaz de andar sozinho, fazer curvas, e parar diante de pedestres ou obstáculos
(Divulgação)
O veículo sem motorista que derrubou Ana Maria Braga durante o programa Mais
Você, nesta segunda-feira, é um protótipo de veículo autônomo
desenvolvido por pesquisadores da Universidade Federal do Espírito Santo
(UFES). Computadorizado, o carro pode andar sozinho por ruas, fazer curvas e
parar para evitar um atropelamento. O acidente com a apresentadora, defende a
equipe responsável pelo veículo, não foi causada por um problema no sistema
computacional do carro, mas sim por uma falha humana. Depois de desligar o
computador do veículo, um dos membros da equipe teria se esquecido de puxar o
freio de mão, e o carro acabou descendo a rua íngreme em que estava
estacionado.
O projeto do veículo autônomo é de autoria do Laboratório de Computação
de Alto Desempenho (LCAD), da UFES, e tem como motivação principal proporcionar
mobilidade a pessoas com deficiência física e visual. Os pesquisadores afirmam,
porém, que no futuro o veículo poderá ser controlado até mesmo por pensamento,
possibilitando, assim, que ele seja operado por pessoas com dificuldades de
fala e outros tipos de deficiência.
Capaz de andar sozinho pelas ruas, o carro consegue ainda fazer curvas e
parar quando uma pessoa passa na sua frente ou quando um obstáculo bloqueia a
pista. Isso se tornou possível porque os pesquisadores deram uma espécie de
cérebro e de olhos ao veículo. O cérebro nada mais é que um computador
instalado no porta-malas do carro, que processa as informações fornecidas por
um conjunto de três pares de câmeras e um sensor laser, chamado Velodyne (um
detector de luz e profundidade), que fica no alto do veículo.
Funcionamento — Posicionado
no capô do carro, o laser faz um movimento de 360º durante todo o tempo em que
o carro está em movimento. Com alcance médio de 70 metros, ele funciona
emitindo feixes de luz invisíveis ao olho humano, que rebatem nos objetos ao
redor e retornam ao sensor. Assim, o cérebro do carro consegue mapear todo o
ambiente em tempo real. As câmeras, que também ficam no capô, funcionam em
pares, a fim de proporcionar uma visão binocular, semelhante à do homem, que
fornece a noção de profundidade e distância em relação ao objeto.
“Para estar nas ruas o carro ainda precisa aprender as leis de trânsito.
Hoje, se ele chega a uma rua em que é proibido entrar, não reconhece isso, e
pode acabar entrando na contramão”, conta Cayo Fontana, pesquisador do LCAD
envolvido no projeto. A equipe agora trabalha para que, com uso das câmeras, o
veículo consiga ler as placas de trânsito, e, com isso, aprenda a reduzir a
velocidade, por exemplo, quando passar por uma placa que solicite velocidade
menor do que aquela em que está trafegando.
Os pesquisadores estimam que esse tipo de veículo seja comercializado em
dez ou quinze anos. De acordo com Fontana, os objetivos vão além de pessoas com
deficiência, podendo se tornar uma tecnologia para uso de todos. “A Organização
das Nações Unidas (ONU) aponta os acidentes de trânsito como uma das principais
causas de morte no mundo. Ter robôs na pista, sem a intervenção humana, poderia
reduzir e até zerar o número de acidentes”.
Acidente no Mais Você — A intervenção humana foi exatamente o que causou o acidente com
Ana Maria Braga nesta manhã. Durante demonstração do carro do LCAD, a
apresentadora foi atingida pela porta do passageiro esquerda, que estava
aberta, foi derrubada e acabou levando cinco pontos na boca. O carro, no entanto,
não estava no modo autônomo.
Após a demonstração, diz Fontana, um dos membros
da equipe desligou o computador que controla o veículo, mas acabou esquecendo
de puxar o freio de mão. Como estava estacionado em uma rua íngreme, o carro
andou sozinho. "No modo automático, o carro fica parado em ladeiras. No momento
do acidente, no entanto, ele estava no modo manual, e se comportou como um
carro qualquer”, diz o pesquisador. “Foi uma falha 100% humana.”
FONTE:
REVISTA VEJA