Roberto Carlos quer
censurar mais uma publicação
Advogados do cantor notificaram a historiadora
Maíra Zimmermann pelo lançamento de 'Jovem Guarda: Moda, Música e Juventude'
que retrata a agitação cultural no Brasil nos anos 60
Roberto Carlos entrou na Justiça para barrar a circulação de mais um
livro que, segundo seus advogados, revela detalhes de sua vida íntima. O
título, no caso, é a tese de mestrado da historiadora Maíra Zimmermann, que
lançou nesta semana Jovem Guarda: Moda, Música e Juventude, derivado da
tese de mestrado feita com subsídios da Fapesp sobre a moda, os diálogos, a
família, a influência dos artistas no desenho da nova adolescência. Em seguida
ao lançamento, a autora e a editora Estação das Letras e Cores receberam uma
notificação que exige a retirada do livro do mercado, além do recolhimento em
até dez dias dos exemplares já distribuídos.
No documento, o advogado Marco Antonio Bezerra Campos, que representa o
ídolo, alegou que a publicação relata a história da Jovem Guarda e, por isso,
inclui passagens sobre a trajetória e a vida íntima do cantor. O autor de Esse
Cara Sou Eu, em 2007, travou batalha na Justiça para tirar das prateleiras
a biografia não-autorizada Roberto Carlos em Detalhes, lançada pelo
historiador Paulo César de Araújo pela editora Planeta em 2006.
Recentemente,
Roberto Carlos fechou contrato com a editora Leya para publicar sua
biografia autorizada que deve chegar às livrarias daqui cinco anos. O projeto
inclui também filme sobre a vida do cantor.
A obra da historiadora, por outro lado, não é uma biografia e nem cita
detalhes da vida íntima de seus principais personagens abordados: Roberto,
Erasmo e Wanderléa. O trio é retratado em caricatura que estampa a capa.
"Meu foco é a construção da cultura nos anos de 1960. Falar da Jovem
Guarda como movimento de transformação de costumes. Não há menção à vida íntima
dos artistas", diz Maíra.
Consultado, o advogado de Roberto, Marco Campos, argumentou que o
problema foi a caricatura que ilustra a capa do livro e também o fato da autora
não ter pedido autorização para publicar o estudo que cita Roberto. "Mas
ele (Roberto Carlos) não pediu a retirada do livro. Não vamos pedir a
retirada."
Os advogados de Maíra e da editora Estação das Letras e Cores
responderam com uma contranotificação: "A autora da obra tem o direito
constitucional de informar a sociedade brasileira acerca dos fatos relacionados
ao movimento cultural Jovem Guarda." O longo documento termina com a
decisão de não retirar os exemplares das lojas. "Não havendo qualquer
sinal de violação aos direitos à imagem, à honra ou mesmo à privacidade do
senhor Roberto Carlos, não há como se acolher os requerimentos formulados na
notificação."
O caso reacende o debate sobre a legislação brasileira que rege a publicação
de biografias não-autorizadas de pessoas públicas. No último dia 2, a Comissão
de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara aprovou projeto que altera o artigo
20 do Código Civil e permite a divulgação de textos e imagens sem a autorização
prévia do biografado e seus parentes. A proposta está em análise no
Senado.
(Com Estadão Conteúdo)
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