quinta-feira, 6 de junho de 2013

CORRUPÇÃO!!!



Diretor do Detran será convocado por CPI



Diretor do Detran será convocado por CPI (Foto: Marcelo Lélis)
Bordalo apresentou requerimento para que os responsáveis pelas empresas Climept e Arqdigital Ltda sejam chamados a depor (Foto: Marcelo Lélis)

O diretor-superintendente do Departamento Estadual de Trânsito (Detran), Walter Wanderley de Paula Pena, será o primeiro convocado a depor na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) criada para investigar o desvio de dinheiro do Detran para atividades político desportivas. O depoimento está previsto para a próxima quarta-feira e a convocação foi aprovada ontem, sem grandes discussões entre os integrantes da comissão. 

Após uma semana sem votações por falta de quórum, a CPI do Detran fez ontem a primeira reunião de trabalho, após a instalação. Foram aprovados três requerimentos. Além da convocação do diretor do Detran, os deputados decidiram pedir à Federação Paraense de Futebol (FPF) a lista de jogadores do Santa Cruz de Cuiarana, time que tem o senador Mário Couto como patrono. Será pedida também a folha de pessoal do Detran, em especial dos que têm contratos temporários. Os dados serão cruzados.

Além de Walter Pena, a CPI poderá convocar o presidente do Sindicato dos Servidores do Detran, Élson Oliveira, que teria novas denúncias a fazer sobre corrupção no órgão. O presidente do clube Santa Cruz também poderá ser chamado, mas esses dois depoimentos devem ser colhidos em uma segunda etapa dos trabalhos. 

ROTEIRO
Ontem, a CPI aprovou ainda o roteiro de trabalho apresentado pelo relator, deputado Fernando Coimbra (PSD). Pelo cronograma, os trabalhos vão começar com levantamentos de informações junto ao Detran, Imprensa Oficial e Secretaria de Estado de Administração. Em seguida será feita a sistematização do material. 

Coimbra pediu que os órgãos investigados fossem visitados. Com isso, a CPI deve ir a Salinópolis para vistoriar o Ciretran local, onde estariam lotados parentes de jogadores do Santa Cruz. Segundo denúncias, eles recebem os salários e repassam ao clube para ajudar a pagar a folha da Associação privada. 
A CPI tem prazo de 90 dias para encerrar os trabalhos e apresentar o relatório, que deverá ser enviado a várias autoridades do Estado. 

O clima na primeira reunião de trabalho foi ameno. Houve discordâncias, contudo, sobre a abrangência da apuração. Os deputados Carlos Bordalo (PT) e Francisco Melo (PMDB) defendem que a CPI seja mais ampla e apure suposto desvio de recursos por meio de contratos. Bordalo apresentou requerimento para que os responsáveis pelas empresas Climept e Arqdigital Ltda sejam chamados a depor. Os dois requerimentos ainda serão analisados nas próximas reuniões.

A Climpet tem contrato com o Detran para realização de exames médicos e psicotécnicos. O contrato teria prazo máximo de cinco anos, mas já está 10 meses além desse prazo. 
GRAVAME

A Arqdigital Ltda teria arrecadado mais R$ 10 milhões fazendo o registro de veículos financiados, o chamado gravame. Esse registro é uma espécie de carimbo indicando que a propriedade do bem é, temporariamente, do banco ou da financeira que fez o financiamento até que o débito seja quitado. Há informações de que o próprio Detran poderia fazer esse registro a um custo muito menor.

O presidente da CPI, deputado Ítalo Mácola (PMDB) disse temer que a ampliação da investigação faça com que a CPI “perca o foco”. Ontem, os deputados não chegaram a um acordo, porém, se a investigação vai se limitar a apurar a folha de pessoal ou se também se estenderá para os contratos. 

O relacionamento entre Carlos Bordalo e o relator Fernando Coimbra também parece ter melhorado. Bordalo chegou a pedir a renúncia de Coimbra da relatoria, em razão das suspeitas de envolvimento deste em fraudes no seguro defeso. Quando ainda era aliado de Ana Júlia, Coimbra foi classificado pelo senador Mário Couto como “assaltante dos cofres públicos”.

Couto é hoje o principal alvo da CPI e o relator foi escolhido com aval do governador Simão Jatene, do mesmo partido do senador investigado. “O relator cumpriu, parcialmente, as nossas expectativas. Vamos analisar daqui para frente”, disse Bordalo. “Estou seguro e certo de que tenho uma missão a cumprir com a sociedade”, afirmou Coimbra. 

O deputado Francisco Melo, o Chicão, (PMDB) alertou ontem os deputados que o diretor-superintendente do Detran, Walter Pena ocupa o cargo de maneira irregular, de acordo com a Constituição do Estado. Isso porque todos os chefes de autarquias (caso do Detran), presidentes de fundações e de empresas de economia mista só podem ser nomeados após passarem por sabatina dos deputados que precisam referendar a indicação. “Todos os atos dele (diretor do Detran) estão desprovidos de legalidade”, afirmou Chicão. 

A Constituição estadual determina que os governadores sejam obrigados a enviar os nomes dos indicados a 29 cargos públicos para apreciação da AL antes que estes sejam nomeados. 

Os governadores costumam ignorar essa prática. Em 2009, a AL aprovou requerimento do então líder da oposição, José Megale (PSDB) ameaçando ir à Justiça contra o governo da petista Ana Júlia que não havia enviado nenhum dos ocupantes de cargos públicos para sabatina. O não cumprimento desse requisito legal pode levar à anulação de todos os atos do ocupante irregular do cargo. Ítalo Mácola disse que a CPI vai apurar qual a razão de Walter Pena não ter sido sabatinado.
Pai e filha têm bens bloqueados

A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que vai investigar os contratos de publicidade firmados entre o Detran, durante a gestão de Ana Júlia, nem bem começou e já dá sinais de desarranjos. Na semana passada, uma manobra da bancada aliada conduziu à presidência o deputado Zé Maria (PT), ausente na reunião em virtude de participação em uma audiência pública no município de Juruti. De volta a Belém, o parlamentar anunciou, ontem, o declínio ao cargo.

“Defendo que a CPI possa efetivamente investigar todas as denúncias de irregularidades no uso de verbas públicas para o processo de publicidade do Detran, no governo Ana Júlia, sem que haja nenhuma interferência política ou vício que possa comprometer uma investigação correta, transparente, rigorosa e justa”, justificou Zé Maria, que se disse surpreso com a indicação. 

O parlamentar garantiu que não abrirá mão da condição de titular da CPI. Para ele, a decisão acertada com o partido revela coerência. “Nós estamos cobrando do governo uma atitude em relação a outra CPI (investiga desvio de recursos do Detran em benefício à Associação Atlética Santa Cruz) e não poderíamos agir diferente disso. Acreditamos que essa seria a melhor atitude a ser tomada também pela bancada aliada. Nossa proposta é um compartilhamento de responsabilidade”, disse o deputado, que é a favor de uma inversão de cadeiras na composição das duas CPIs. “Não tem sentido governo investigar governo. É papel da oposição investigar”. Quem assumirá a presidência desta CPI é a deputada Cilene Couto (PSDB).

DEPUTADA
A deputada atuou por muitos anos como parceira do pai senador Mario Couto, durante sua gestão na presidência da Assembleia Legislativa (AL) entre 2004 e 2007, quando ocorreu um dos maiores escândalos de corrupção do parlamento estadual em muitos anos: o caso Tapiocouto. 

Pelo menos onze processos licitatórios teriam sido fraudados no período, acarretando, segundo o Ministério Público do Estado, desvios na ordem de R$ 13 milhões. E quem presidia na época o Controle Interno da casa, cuja função principal é fiscalizar as contas e prevenir ações ilícitas, incorretas ou impróprias que possam gera dano ao erário? Ela mesma: Cilene Couto. Ou seja, a filha controlava as ações do pai.

O desvio era feito através de fraude na folha de pagamento e em processos de licitação forjados. Quando assumiu a presidência da AL, o então deputado Mário Couto nomeou pessoas da confiança dele para cargos estratégicos, que viabilizariam o esquema, sem se preocupar com a prática do nepotismo: e filha Cilene Couto ficou com a presidência da comissão de Controle Interno, de onde só saiu para disputar o cargo de deputada estadual, para o qual foi eleita. 

Outro filho ficou com a auditoria da casa. E o amigo e braço direto, Sérgio Duboc, assumiu o departamento financeiro, que controlava todo o esquema. Duboc foi indicado por Mário Couto para a diretoria-geral do Detran, de onde saiu em meio ao escândalo da AL, tendo inclusive a sua prisão preventiva decretada.

Com base nas provas do MP, o juiz da 1ª Vara Civil bloqueou, no ano passado, os bens do senador e de mais 38 pessoas, entre elas Cilene. Parte do bloqueio de bens permanece hoje. O senador pode movimentar apenas a conta do Banco do Brasil em que recebe o salário do Senado. Todos os outros bens móveis e contas correntes permanecem bloqueados. O objetivo é impedir a transferência para terceiros e,com isso garantir que, em caso de condenação, que senador possa ressarcir os cofres públicos.

“Cegueira deliberada” do controle interno da AL
A prova de como o controle interno atuava na época está na denúncia do MP à Procuradoria Geral da República, que desnudou todo o esquema. Uma das formas de desvio era o pagamento de serviços não realizados feitos a empresas fantasmas que pertenciam a então servidores da casa. A mais famosa das empresas foi a Croc Tapioca que, segundo os promotores, vendia “do feijão ao avião” para a AL. As denúncias de desvio de recursos públicos já tiveram desdobramentos na Justiça Estadual, já que o foro privilegiado de Couto não se aplica ao julgamento por improbidade que pode obrigar o senador a devolver aos cofres públicos os milhões desviados.

“Essas pessoas (Mário e Cilene Couto) têm legitimidade porque foram eleitas para zelar pelo erário público. E elas foram as primeiras que saquearam, que vilipendiaram esse erário. Por isso uma das medidas mais importantes é a devolução do que foi desviado para o erário, que foi assaltado...”, afirmou o promotor Nelson Medrado, que investigou o escândalo. 

A promotoria atua em duas áreas: criminal, onde solicitará que os envolvidos paguem com penas de prisão; e na área da improbidade, exigindo o ressarcimento do que foi desviado.

Além dos pagamentos às empresas que, supostamente, prestavam serviços à AL, havia também o esquema de desvio de dinheiro através de uma folha salarial extra. A AL tinha uma folha oficial que era paga e uma segunda arquivada, que era metade da oficial. “Se o controle interno da Assembleia Legislativa tivesse atuado descobriria facilmente o esquema”, disse Medrado. Segundo ele, “houve uma cegueira deliberada”. 

“As pessoas se fingiam de cegas para permitir os saques. Era impossível não saber o que estava ocorrendo. Era grandioso, monumental (o esquema)”, aponta Medrado. Segundo o MP saiam, por semana, de R$ 400 mil a R$ 600 mil do Banpará para servidores da AL.

(Diário do Pará)

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