O maior vilão ainda é o preconceito
Domingo, 09/11/2014, 09:32:29 - Atualizado em 09/11/2014, 09:32:29
Doença
silenciosa, o câncer de próstata é a prova de que o preconceito pode
matar. E durante todo o mês de novembro, o objetivo do Instituto Lado a
Lado pela Vida, Organização Não Governamental que idealiza e apoia
ações de humanização na Saúde é disseminar pelo Brasil a campanha
Novembro Azul, que busca a conscientização do homem em relação à
necessidade da inclusão do exame de próstata em sua rotina de exames
preventivos. Por aqui, o Hospital Ophir Loyola, referência em tratamento
oncológico no Pará, está à frente dessa campanha, e bate na tecla de
que o tabu ou a falsa ideia de constrangimento provocado pelo famigerado
exame, não podem vir na frente da saúde do indivíduo.
“Já foi pior. Oito anos atrás, a chance de
chegar um paciente com câncer de próstata em estágio avançado e com
poucas chances de tratamento era de 90%, hoje é de 60%, e embora ainda
represente a maioria dos casos, e vejo que essa diminuição acontece
graças às campanhas de conscientização, que surtem efeito não só nos
homens. O hospital recebe hoje pacientes levados pelas esposas, filhos e
familiares em busca do exame. E há também aqueles que buscam
espontaneamente, preocupados com a questão mais importante de todas,
que é a saúde”, avalia o chefe do serviço de Urologia e de transplante
renal do HOL e também professor titular de Urologia da Universidade do
Estado do Pará, Ricardo Tuma.
“Esse é o mês de intensificar a difusão de
informações sobre o câncer de próstata, que assim como o de mama, que
afeta as mulheres, chega a ter chance de 95% de cura se diagnosticado e
tratado no início”, estimula o profissional. “Um homem que tem
antecedentes, ou seja, que teve pai ou avô com a doença, deve começar o
exame com 35, 40 anos. Se não tiver, deve incluir na rotina a partir
dos 40, 45. Ao ser examinado, ele passa por uma ultrassom da próstata,
faz um exame de sangue chamado PSA (Prova do Antígeno Prostático) e o
toque retal. É importante dizer que uma etapa não anula a outra. Por
vezes há a dispensa do toque, mas na maioria das vezes, se faz
necessário”, detalha Tuma.
No caso de um diagnóstico de câncer em
estágio inicial, ou faz-se o tratamento radioterápico ou cirúrgico, que
retira a próstata, e que tem eficácia de até 95%. “A margem de cura
pela radioterapia é menor, de 90%, mas é considerado como um dos
principais tratamentos quando o homem, ou não tem condições clínicas de
suportar a intervenção cirúrgica , ou não quer. Quando o estágio da
doença é avançado, a cirurgia deixa de ser uma opção e aí o tratamento é
definido de acordo com a situação - o tumor pode estar isolado mas
localmente avançado, ou pode ter afetado órgãos próximos, como a
bexiga, o reto, ou pode estar em metástase”, explica.
“Essa campanha quer virar o jogo. A mulher
sempre vive mais que homem, oito, nove anos mais, porque ela tem uma
preocupação maior com a saúde, ela vai ao médico pela prevenção,
diferente do homem, que só procura quando está doente”, insiste o
médico.
O aposentado Ângelo Pinho, de 67 anos, está
na lista dos que há muito tempo deixaram para trás qualquer tipo de
constrangimento e vai ao médico uma vez por ano para o exame. “Gente,
não tem constrangimento, faço há mais dez anos, não entendo essa ideia
de que homem não tem que passar por isso, que é vergonhoso ou qualquer
coisa do tipo. Fico muito satisfeito em saber que existe uma campanha
de conscientização porque não pode haver nada no caminho de se evitar
um câncer e todos os males que ele traz”, apela.
Quando chega perto do final do ano, o
produtor de rádio, Luiz Guilherme Costa, liga para o médico que lhe
atende já há um bom tempo e marca para o início do ano seguinte a
consulta. “Faço isso há 20 anos, desde os meus 40 anos e não tenho,
nunca tive preconceito. Perdi amigos por causa desse câncer e botei na
minha cabeça que precisava ficar de olho nisso. Sinceramente, hoje em
dia acho até imbecilidade alguém alegar medo ou preconceito como
justificativa de não fazer, de nunca ter feito o exame. É jogo rápido,
natural, e é uma questão de saúde! Não tem nada mais importante que
isso”, garante.
“Acho muito legal essa campanha, penso
inclusive que o Ministério da Saúde deveria intensificar essa
conscientização, oferecer exames de graça para todos, afinal, a
prevenção também é uma forma de economizar, de evitar que aquele cara
acabe doente e onerando o INSS porque não conseguiu, não quis fazer um
exame tão simples”, expõe.
(Diário do Pará)
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